É sabido que o turismo é uma actividade económica muito relevante no Algarve. Para a Região de Turismo do Algarve e, de um modo geral, para os empresários de sectores fortemente influenciados pelo turismo (como sejam a hotelaria, a restauração, o comércio ou a construção civil), o objectivo comum é o de atrair cada vez mais turistas ao Algarve, no fundo o de tornar o Algarve um destino turístico de excelência.
Para atingir esse objectivo, avança-se para novas acções (ou, pelo menos, intenções), ou com a continuação e o reforço de projectos já em marcha, como sejam: promoção do turismo na época baixa (entre Outubro e Maio); brochuras de divulgação da oferta turística noutros países (em Espanha, por exemplo); promoção do golfe; modernização dos postos de turismo; diversificação da oferta (procurando ofertas complementares ao tradicional ‘Sol e Praia’ e combatendo assim a sazonalidade); incremento da formação profissional; divulgação do Algarve interior; maior aposta no turismo cultural (congressos, por exemplo), no turismo de Natureza, no turismo rural, no turismo sénior e outras acções. Pelo menos a nível das intenções, o PROALGARVE, Programa Operacional Regional do Algarve (2000 – 2006), assumiu como prioridades estratégicas a especialização, o reforço e o alargamento do complexo de actividades de Turismo/Lazer e a diversificação da oferta turística regional.
O golfe, designadamente, tem sido alvo de polémica e inquietação. Embora haja várias posições, a mais fundamentada é, no meu modo de ver, a dos ambientalistas, que sustentam que o golfe requer um consumo excessivo de água e a manutenção dos campos de golfe implica um elevado consumo de adubos químicos e pesticidas (que irão poluir as águas subterrâneas) e que, para a prática do golfe, é necessário ocupar dezenas de hectares de terrenos de valor agrícola, ecológico e paisagístico (cf. Barlavento, 21/12/2000). Além disso, salientam que o golfe é acompanhado pela componente imobiliária, fruto igualmente de danos ambientais.
Alguns governantes e sectores ligados sobretudo à hotelaria acreditam ainda que o turismo seja aquele sector que possa levar com maior rapidez à convergência do nosso país com a média de produtividade europeia, uma espécie de “motor de arranque da economia portuguesa”, desde que haja aumento da competitividade, o que depende, segundo a generalidade dos empresários, da diminuição da excessiva regulamentação e burocratização nos processos de investimento, da rigidez de alguns planos de ordenamento, e da flexibilização dos horários de trabalho. No entanto, seguir estas vias poderá implicar ainda mais a degradação do meio natural e da paisagem no Algarve, bem como, a nível laboral, mais precaridade e conflitos de trabalho.
Num passado recente, conhecido nos seus elementos fundamentais, e seguindo Fátima Quirino, “Os anos 60 assinalam no Algarve o início de um processo de crescimento económico claramente marcado pelo turismo, tendo-se mesmo assistido, a partir da década de 70, a uma verdadeira explosão turística, em especial no litoral, que conduziu à desestruturação do modelo económico tradicional. Isso motivou um grande crescimento imobiliário nas áreas costeiras, traduzindo-se numa rápida polarização urbana, com reflexos na vida económica e social da região (...). Actualmente esse modelo de (...) crescimento turístico foi ultrapassado por uma visão de sustentabilidade”.
Actualmente está-se abandonando a visão estreita de crescimento turístico por uma visão de sustentabilidade que, como se diz, apela à qualidade e à requalificação, tendo em vista o reforço da competitividade do destino turístico. O turismo sustentável engloba assim formas de turismo que se articulem com a gestão sustentável dos recursos naturais. É intenção, pois, inserir o turismo num ciclo económico sustentável, e para atingir esse objectivo já foram concebidos indicadores de sustentabilidade. Mas esses indicadores (como, por exemplo, os gastos dos turistas em água, electricidade, gás propano e outros) dizem respeito à situação do turismo no ciclo económico que se pretende sustentável, e não à sustentabilidade do próprio turismo em si. E este ponto não deve ser esquecido.
Sobre a questão da sustentabilidade do turismo, o saudoso Prof. Manuel Gomes Guerreiro, um dos maiores ecologistas algarvios de sempre, escreveu há quase trinta anos o que ainda hoje é válido: “O turismo é uma actividade de características económicas aleatórias, sujeito a contingências que nos ultrapassam e em que se não poderá alicerçar um plano a longo prazo, tendo como meta a prosperidade nacional”.
O Turismo no Algarve é uma fortíssima variável exógena, e ao mesmo tempo incerta. Trata-se, como é sabido, de uma actividade fortemente condicionada por uma procura instável, muito sujeita a flutuações económicas e a várias situações de mercado. Recordemos, para o Algarve, quebras no turismo resultantes, por exemplo, dos elevados preços da aviação comercial; da existência de outros destinos concorrentes (Espanha, Marrocos...) e das perdas de turistas da Alemanha, devido à recessão económica naquele país. Isto, é claro, para além de outros factores imprevisíveis (mas não impossíveis) que podem destronar qualquer cenário optimista. Por exemplo, “O afundamento do petroleiro ‘Prestige’ na costa da Galiza, em Espanha, se tivesse ocorrido no Algarve, mataria o turismo nos próximos anos” (Helder Martins, in Barlavento, 30/4/2003).
Mesmo assim, sendo de características aleatórias e com as limitações da actividade turística, o certo é que, pelo menos até agora, e de há décadas para cá, como nos diz J. Félix Ribeiro, o Algarve “não foi capaz de gerar actividades alternativas ao turismo”; simultaneamente, “(...) a concentração de recursos no turismo tem condicionado as possibilidades de diversificação para outras actividades”.
Sobre o nosso país, o Prof. António Barreto, certa vez, quando um jornalista lhe perguntou: “Como vai a Europa olhar para nós, em 2020 ?”, simplesmente respondeu: “Como uma região. De Verão” (!). A resposta, ainda que lacónica e redutora, dá que pensar!
A concentração da actividade produtiva no Turismo, no Algarve, afigura-se cada vez menos polémica e, de certo modo, os algarvios já a assumem como um dado adquirido e estrutural. A tendência é cada vez mais a da diversificação da oferta turística e a da conciliação com uma visão ambiental, procurando-se minorar os erros do passado recente. Por outro lado, encara-se o Turismo como modo de arrastamento de muitos outros sectores ou sub-sectores, como o agro-alimentar (sobretudo através da restauração), o hoteleiro, o comercial, a construção civil e outros.
No entanto, numa visão a longo prazo, o mais importante seria mesmo uma maior diversificação das actividades produtivas, intenção veiculada por vezes por dirigentes políticos e analistas, mas sempre adiada na marcha do processo histórico.
1 comentário:
Obrigado Carlos pelo convite a visitar o blog,já tinha passado os olhos na Edição Especial, mas devo GARANTIR,que o maior problema do TURISMO Algarvio nos ultimos anos se deve a Dois problemas.
1º- Qualificação de mão de obra.
Qualquer servente de pedreiro trabalha na Hotelaria miserável que temos,sabem lá os senhores proprietários de TASCAS, o que é plano de HACCP.
2º- ECOLOGISTAS ou COMUNISTAS.
Ecologia é uma coisa,POLITIQUICES, que impedem o desenvolvimento económico é outra.
Desculpa lá mas fala quem paga IMPOSTOS para serem utilizados em apartamentos para ciganos,e ordenados da função publica.
Um abraço.
Rui Eusébio.
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