2012-06-21

Aquelas árvores da Igreja


No dia 7 de Outubro passado, quando me deslocava próximo da Igreja Matriz de Portimão, fiquei deveras chocado. Nem queria acreditar no que estava vendo! As árvores do adro da Igreja estavam sendo cortadas! Senti-me triste e perplexo.
Para mim, aquelas árvores não eram só seiva, verdura, clorofila, produtoras de oxigénio ou de sombra. Também eram expressões de sentimento, beleza, harmonia, conexão psíquica com o espaço, uma história comum. Aquelas árvores frondosas no adro da Igreja Matriz de Portimão, digamos, viram-me nascer e acompanharam o meu crescimento.
Vivi sentimentos e emoções junto delas, e à sombra delas. Em miúdo, sentindo que lá dentro (na missa), o ambiente estava “pesado”, uma “seca”, era debaixo daquelas árvores que me refugiava, sobretudo na da esquerda, como quem entra na Igreja. Usufruía momentos de uma sombra acolhedora; às vezes sentado no muro, outras mesmo tocando nos galhos ou encostado ao tronco. Ainda em tempos recentes, ao deslocar-me entre a Alameda da República e a Rua da Igreja, teimava às vezes em cortar caminho, subindo (ou descendo, dependendo do sentido em que vinha) a escadaria principal da Igreja, só para passar perto das árvores do adro, sobretudo a da esquerda.  
A perceção e o conhecimento do mundo vegetal, e também a nossa relação com ele, vai mudando ao longo dos tempos. Atualmente alguns terapeutas aconselham mesmo: “Abrace uma árvore, conte-lhe os seus problemas (…)”. E acrescentam, como sinal de gratidão: “Em determinada altura deve fazer uma oferenda à árvore: água, fertilizante natural ou, talvez, cantar-lhe. A árvore sentir-se-á muito feliz”. Se escrever no YouTube “sensibilidade das árvores”, vai encontrar logo no primeiro registo da listagem um pequeno vídeo-clip de Osho, muito interessante sobre esta temática.
  Voltando ao corte daqueles árvores no adro da Igreja Matriz, desconheço o motivo dos superiores (diretamente a Igreja, julgo eu) para mandar cortar à serra aquelas árvores. Ainda me dei ao trabalho de subir as escadas e meter conversa com um trabalhador no sentido de perceber o “porquê” do corte daquelas árvores, ao que chegou um homem lá do fundo - provavelmente o empreiteiro – que, acintosamente, me vociferou: “O que é que você tem a ver com isso?”. Fiquei perplexo! Nem respondi! Ora, o que é que eu tenho a ver com aquilo? Imaginem! No entanto, independentemente do “porquê” (e há sempre um “porquê” para tudo, nem que seja inventado “a posteriori”), sinto-me chocado!
Por volta das 15:00 voltei outra vez pelo adro da Igreja, como quem faz uma romagem a um lugar de culto. O espetáculo era desolador! Rodeada de tapumes, restavam os restos mortais da árvore da direita. Da outra, a árvore mais ligada à minha infância, só restava o tronco rasteiro. Contemplei o local com mágoa e desolação.
Abates deste tipo, em Portimão, tenho assistido ao longo do tempo, estupefato e triste. Lembro-me, por exemplo, do corte daquela imponente árvore por detrás do quiosque do Jardim Visconde Bívar. Ou daquela selvajaria que foi o corte das árvores do Praça Manuel Teixeira Gomes, há uns anos atrás. Enfim… palavras para quê?